Coluna: Nossos dias | Folha Metropolitana
Por Jura Arruda
@juraarruda_escritor

Tenho ouvido a frase aí do título. Há anos. E ando mesmo a concordar, porque a política é mesmo um saco onde se tem jogado muita coisa fora. Ao escolher um candidato, e o termo "escolher" aqui é incoerente na maioria das vezes, estamos jogando no saco nosso descaso, nossa incompreensão do que é este sistema que se propõe organizar a sociedade de modo que haja a possibilidade de convívio e igualdade; que dá voz ao povo através de seus representantes. Sendo prático, ao "escolher" qualquer um, sem saber suas intenções, sua ideologia, seu passado, sua posição diante de grandes questões humanas, eu posso estar colocando um lobo para cuidar de ovelhas. Quem eu escolho para me representar deve ter, no mínimo, as mesmas ideias de sociedade, de ser humano, de justiça e de liberdade que eu. Mas este "eu" também deve estar com ideias bem definidas, a partir de um entendimento de mundo, do viés humano da sociedade e, se possível, das estruturas de poder. Mas, acima de tudo, imbuído de tolerância e empatia, de sensibilidade e senso de justiça.
Bem, as estruturas do poder são complexas mesmo para quem faz parte delas, contudo, é fundamental saber que, basicamente, o dinheiro navega pelos corredores e determina a ética, a moral e o caráter dos tais representantes. Este dinheiro, crianças, não está em suas mãos, nunca esteve. Ele é arma dos poderosos e pode tanto convencer ou fazer mudar de opinião os mais conscientes membros das instituições de um Estado, quanto transformar mentiras e boatos em verdades incontestáveis. Mas isso só é possível porque vivemos a triste realidade da falta de informação, porque somos impactados por qualquer mensagem, em outras palavras, caímos em qualquer conto do vigário, ainda que seja inconcebível a sadios olhos nus. Só é possível esta realidade em que dinheiro vale mais do que pessoas, porque jogamos nosso voto no saco sujo da política corriqueira e cruel.
Os semáforos da cidade estão repletos de bandeiras e pessoas sorridentes que aproveitam a parada dos carros para oferecer panfletos e falar de seus "escolhidos". Recebi numa única parada de 30 segundos material de campanha de três candidatos a vereador, prometendo o impossível, coisas que não dizem respeito ao seu cargo, porque são definidas por lei federal. Um deles, colocou sua religião acima de tudo, e isso é grave, porque política é movimento social, é ferramenta para oferecer dignidade aos que vivem numa comunidade; a religião, por sua vez, é relação íntima com as divindades, é caminho particular, é ferramenta de curar a alma, não bandeira, convicção ou fé a se empurrar goela abaixo. Cada um tem seu caminho para se "religar" ao divino. E mesmo isto, a gente precisa ponderar na escolha de um candidato. Ou continuaremos tratando a política como um saco, e sendo tratados como gado, rebanho que não sabe olhar para cima.
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